Resolveu pensar no que tinha acontecido naquela época. Quando se é criança se tem experiências boas e ruins. Até então ele nunca tinha pensado nisso mas, uma vez, quando era criança, pensara ter sua primeira namoradinha. Deviam ter seus 8 ou 9 anos, no máximo.
Se sentia um mortal feliz, ah se não! Estufava seu peito e caminhava até a casa dela, não era muito longe. Sim, ingênuo ele era! O simples fato de pensar em algo mais com aquela menininha, já o deixava envergonhado, deveras. Conversavam um pouco. Essa conversa ingênuamente desinteressada e tola. Não roubava beijos, não fazia carinhos, não pedia pra namorar. Pra ele aquilo tudo ainda não existia dessa forma. Pelo menos, não pra ele.
Ele emendava uma frase aqui e ali, enquanto admirava a menininha dos cabelos enrolados, e loirinhos. Pensava ele (até então) que ela seria sua primeira namoradinha. Mas eis que, de repente, um amigo dele (seria mesmo amigo?) a pede um beijo. No colégio. Ah, claro! Vale citar, os 3 estudavam no mesmo colégio. O coleguinha que aparece agora era um desses filhos-únicos-de-pais-divorciados-que-estudam-em-colégio-particular, sempre muito bagunceiro as vistas dos coordenadores e corajoso as vistas dos companheiros de sala.
Mas onde estavamos mesmo? No beijo! claro. Comecemos do início do beijo: O coleguinha dele chama os mais chegados na sala. É intervalo, e dentro daquele pequeno grupinho surge uma notícia que deixa todos os coleguinhas em polvorosa. "Ele vai beijar uma menina". E é justamente essa menina que você, leitor, tá pensando. A menina que nosso personagem principal pensara ser sua primeira namoradinha. E sim, o menininho era uma das pessoas que estava nessa sala.
O colega corajoso pede pra um de seus fiéis escudeiros bater a porta. Ela aparece na frente dele, ele respira, olha bem pra ela e a beija. DUAS VEZES! Aquela cena deixara o menininho sem ação. Sentiu-se como se nenhum esforço dali pra frente valesse de algo. Engoliu ali, ao lado das carteiras e em meio a penumbra da sua sala, tudo aquilo que pensara ser realidade. Sentira, pela primeira vez, talvez, as dores de um amor não correspondido. Uma ilusão. Tudo que nutria pela loirinha, esvaiu-se.
Nosso amigo, o menininho, realmente sentira o baque de toda aquela situação. Talvez pros outros, até mesmo pra loirinha e pro corajoso, tenha sido só mais um momento esquecido na memória. Talvez.
Mas a marca, de verdade, ficou pra sempre no menininho já tão pequeno e tendo que suportar essas desilusões da infância. Ele tentou esconder dele mesmo a verdade, por alguns anos. Sabia bem como fingir não se incomodar toda vez que pensava naquilo. Talvez se tivesse tido um pouco menos de medo as coisas pudessem ter sido diferente dali em diante. Poderia ter evitado muita coisa que aconteceu depois. Mas ele não tinha, com certeza, essa percepção na época. Ingênuo, ou cego demais. Nunca vai se saber.
Pode-se dizer que o menininho sentiu-se só, e só ficou, durante bastante tempo.